"Ela conseguiu.
Desde que se lembra, que é isto que quer
É já amanhã.
É só acordar e sair.
Sem olhar para trás.
Tudo ficará no passado quando chegar a manhã.
Ela fecha os olhos. Sorri.
As mãos tremem.
"Serei capaz?"
É o chão que pisou todas as noites.
Ao de leve, para ninguém ouvir.
Ele guarda todas as suas lágrimas,
Por poucas que sejam.
Ela não quer sentir.
Não quer sentir.
Não era suposto ser assim.
Ela sairá pela porta da frente, e olhará para trás
Tem de olhar
É lá que ela está.
Despede-se com um gesto rápido
Com o andar pesado
Ela não vai voltar.
Nada será igual
Nunca será o ideal
De felicidade, como é possível ser feliz?
Nunca a ensinaram.
Ela não sabe e agora, é tarde demais.
Está lá, pelo mundo
À procura de conforto
Fugindo ao seu fado
Mas não vale a pena,
Pois ela não passa,
De um bem danificado.
domingo, 20 de julho de 2014
quinta-feira, 27 de março de 2014
"Lugares Abandonados"
"O que fica por acontecer.
É isso, é isso mesmo.
É quando olhamos para um espaço, abandonado a sua sorte, que se vê..
O que ficou por acontecer.
É isso que dói, essa sensaçao magica da incognita, da beleza vazia.
Já pensaste nas histórias de amor que podiam ter acontecido naquele quarto sujo, repleto de manchas de humidade.
Esses vultos que dançam a valsa sem musica, que se beijam sem se tocarem.
Que existem fora da realidade.
É isso que dói.
O que fica por acontecer.
O riso da criança que recebeu um brinquedo, o choro de uma mulher que vê o seu amor partir.
A jovem perdida, passeando pelos corredores,
E ele escondido na casa de banho, a fumar cigarros para a conduta.
É nesse espaço vazio que, ás vezes, se fechares os olhos, ouves a musica."
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
"Um pequeno esgotamento nervoso"
"Eu não consigo dormir. Já não consigo dormir. Parem de dizer que é cansaço, que é stress. Não é. Não durmo porque não fiz as coisas. Porque não as disse. Não me deixo dormir como castigo.
Pára de adiar. Tem coragem. Há tanto que queres fazer.
Eu quero dormir, mas fecho os olhos e imagino o que não disse, o que não fiz. E se eu já não for a tempo?
Acalma-te, eles estão a olhar.
Eu não sei o que é amar, mas acho que o sinto. Eu quero dizer-te, não sei o quê, olhar para ti. Estarmos diante uma da outra. Queria que percebesses e que eu não o dissesse.
Eu não sei falar. Eu não te consigo falar.
Sei escrever, mas não queres que te escreva. Não sei fazer mais nada.
Eu sei que é estranho, tive pouco tempo contigo, mas... o que querias que fizesse? A culpa é tua! A culpa é toda tua e odeio-te por isso.
Quero-te tanto aqui.
Acalma-te, ajeita a camisa, sorri. Eles estão a olhar.
Eu imaginei a minha vida. Aquelas coisas todas, casar, filhos, cão carro, felicidade.
Mas eis o que não me disseram: isto não acontece a pessoas como tu, minha querida.
Mas também ninguém sabe que sou louca.
Acalma-te, respira, ajeita a camisa, sorri. Eles estão a olhar.
O lado negro está na moda. As pessoas querem ver o lado negro das outras. “Uh eu aceito-te como és.” “Eu também tenho um.”
Realmente o mais corajoso é ser-se decente.
Eu também criei o meu, e tentei ser diferente, não gostar do que é normal.
Mas eu apenas o quero ser, normal. Ah ah ah, as ilusões são tão bonitas.
Acalma-te, respira, fodasse!
Não! A vida não é fácil mas também não pode ser assim tão dificil. Olha para mim! Olha para mim e diz-me que não estou certa! Olha! Desafio-te a dizer que a loucura não é a única coisa que faz sentido."
"Um Belo Tormento"
"O teu aniversário está quase. E agora? É suposto dar-te os parabéns? É suposto congratular-te no dia em que nasceste? Para quê?
Amaldiçôo esse dia, pois se nesse dia as coisas tivessem sido diferentes, talvez agora não estivesse neste tormento.
E se não tivesses nascido?
Não estaria a sofrer por ti.
Não ficava na incógnita que fico antes de dormir, em que afirmo que não vou pensar em ti, mas fico horas a decidir qual dos cenários mais me agrada.
Na minha imaginação és boa para mim e tratas-me bem. Mas eu também sou outra e não disse as merdas ditas na realidade. Tive as atitudes certas, as atitudes que deveria ter tido mas que agora já viriam tarde.
Lá, somos as duas diferentes, mas essas pessoas não existem.
Não.
Eu sou apenas aquela que escreve sobre ti. A que escreve para ti. E a que reza para que nunca leias isto.
Talvez te comovesse. Provavelmente assustavas-te.
E tu... És aquela que não pensa em mim, que na realidade vive.
Aposto que tens experiências fantásticas e cheias de paixão. És uma apaixonada. Nasceste para isso.
Eu apenas fico por aqui, a gastar papel e tinta numa imagem falsa de ti.
Se não tivesses nascido, o meu tormento seria outro. Não seria tão poético como sofrer por ti, e o que escreveria não faria sentido.
Obrigado por teres nascido, meu tragicamente belo tormento."
domingo, 19 de janeiro de 2014
Excerto do livro - "Bordeaux"
"Não podia continuar assim, tinha de a conhecer. Voltar ao bar. Nem que fosse para perceber que ela não era tão especial como achava, que estas coisas só acontecem nos livros. Sempre que pensava nisto achava que era ridículo, apesar de não o sentir. Já não agia normalmente, até quando ía beber café ao Chiado imaginava-a a passar por ali, e o que eu diria, e o que ela responderia. Imaginava-a a sentar-se na esplanada, eu pediria um café e acenderia um cigarro, ela um chá, verde talvez. Não pediria açucar e dir-me-ia que corta o sabor. Eu ria-me. Ela fingia estar chateada."
"Não podia continuar assim, tinha de a conhecer. Voltar ao bar. Nem que fosse para perceber que ela não era tão especial como achava, que estas coisas só acontecem nos livros. Sempre que pensava nisto achava que era ridículo, apesar de não o sentir. Já não agia normalmente, até quando ía beber café ao Chiado imaginava-a a passar por ali, e o que eu diria, e o que ela responderia. Imaginava-a a sentar-se na esplanada, eu pediria um café e acenderia um cigarro, ela um chá, verde talvez. Não pediria açucar e dir-me-ia que corta o sabor. Eu ria-me. Ela fingia estar chateada."
Excerto do livro - "Bordeaux"
"Não sabia o porquê da discussão, mas ao fim de dez minutos de gritos o rapaz acabou por ser despedido. Saiu de rompante do bar, e eu só pensava que naquele curto espaço de tempo tinha assistido a um momento traumático da sua vida. A quantidade de histórias que existem por aí, cada pessoa com a sua para contar e, que por mero acaso, tropeçamos nelas, testemunhamos esses episódios e seguimos a nossa vida, como se nada fosse. Era-me impossível não ver beleza nisso, era tragicamente belo."
"Não sabia o porquê da discussão, mas ao fim de dez minutos de gritos o rapaz acabou por ser despedido. Saiu de rompante do bar, e eu só pensava que naquele curto espaço de tempo tinha assistido a um momento traumático da sua vida. A quantidade de histórias que existem por aí, cada pessoa com a sua para contar e, que por mero acaso, tropeçamos nelas, testemunhamos esses episódios e seguimos a nossa vida, como se nada fosse. Era-me impossível não ver beleza nisso, era tragicamente belo."
Excerto do livro - "Bordeaux"
". Lembro-me do meu primeiro dia no atelier, aquela mistura de entusiasmo e nervosismo, o sentimento de “coração nas mãos” que tanto nos aterroriza mas que tão bem nos faz. Decidi erguer a cabeça e mostrar um ar confiante, mas assim que passei pela porta tropecei nos baldes de tinta e rasguei uma tela. Por sorte o chefe estava lá dentro, no seu escritório improvisado e apenas Leonardo testemunhou a minha grande entrada. Arrumou logo os baldes, lavou o chão e escondeu a tela, a rir-se baixinho para eu não ouvir. "
". Lembro-me do meu primeiro dia no atelier, aquela mistura de entusiasmo e nervosismo, o sentimento de “coração nas mãos” que tanto nos aterroriza mas que tão bem nos faz. Decidi erguer a cabeça e mostrar um ar confiante, mas assim que passei pela porta tropecei nos baldes de tinta e rasguei uma tela. Por sorte o chefe estava lá dentro, no seu escritório improvisado e apenas Leonardo testemunhou a minha grande entrada. Arrumou logo os baldes, lavou o chão e escondeu a tela, a rir-se baixinho para eu não ouvir. "
Excerto do livro - "Bordeaux"
"Nunca me esquecerei das minhas conversas com Eva, aqueles diálogos de resposta rápida, sem rodeios nem justificações. Quem tem a certeza do que diz não sente necessidade em justificar-se, a razão persiste no silêncio. Erámos constantemente de opiniões opostas e isso de algum modo, complementava-nos. Era curioso ver naquela amizade repleta de contradições e naquela pessoa cuja existência estava continuamente associada ao desiquilíbrio e ao jogo de extremos, um pilar."
"Nunca me esquecerei das minhas conversas com Eva, aqueles diálogos de resposta rápida, sem rodeios nem justificações. Quem tem a certeza do que diz não sente necessidade em justificar-se, a razão persiste no silêncio. Erámos constantemente de opiniões opostas e isso de algum modo, complementava-nos. Era curioso ver naquela amizade repleta de contradições e naquela pessoa cuja existência estava continuamente associada ao desiquilíbrio e ao jogo de extremos, um pilar."
Excerto do meu livro, que já tem título - "Bordeaux"
"Poderia dizer-se que estava a fazer tempo, pois os jovens realmente acham que o conseguem. Na nossa mocidade, acreditamos que conseguimos alongar a linha cronológica, que o mundo esperará por nós, Dizemos que compreendemos o que vemos e ouvimos, o que testemunhamos e sentimos, e repetimos incessantemente até acreditarmos. Passamos por desilusões e sofremos. Bastante. Esquecemo-nos que por cada desilusão sentida, menos uma ilusão vivida."
"Poderia dizer-se que estava a fazer tempo, pois os jovens realmente acham que o conseguem. Na nossa mocidade, acreditamos que conseguimos alongar a linha cronológica, que o mundo esperará por nós, Dizemos que compreendemos o que vemos e ouvimos, o que testemunhamos e sentimos, e repetimos incessantemente até acreditarmos. Passamos por desilusões e sofremos. Bastante. Esquecemo-nos que por cada desilusão sentida, menos uma ilusão vivida."
Subscrever:
Mensagens (Atom)